sábado, 10 de junho de 2017

ACONTECEU O V SEMINÁRIO UNESC DE HUMANIDADES MÉDICAS!

V SEMINÁRIO UNESC DE HUMANIDADES MÉDICAS

MEDICINA: HISTÓRIAS DE VIDA



Nos dias 9 e 10 de junho de 2017 aconteceu o V Seminário de Humanidades Médicas do UNESC, um evento pioneiro criado em 2013 para o debate de diversos temas incluindo: Bioética, Filosofia da Medicina, História da Medicina, Relação Médico-Paciente, Ética Médica e Literatura em Saúde. Esta edição foi denominada “Medicina: Histórias de Vida”, e foi dividida em três blocos: (a) Humanização em Saúde, abordando as histórias de vida dos pacientes; (b) Profissionalismo e Ética, abordando as histórias de vida dos profissionais da área da saúde; e (c) Bioética – O Debate do Aborto, com diferentes visões sobre a vida de médicos, mães e da futura geração. 


O evento foi coordenado pelo Prof. Dr. Hélio Angotti Neto e pela Profa. Ms. Renylena Schmidt Lopes, com a organização da Liga Acadêmica de Humanidades Médicas, do Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina, da Diretoria Acadêmica do UNESC e da Coordenação do Curso de Medicina.


O apoio acadêmico e estrutural para que mais essa edição do evento se concretizasse foi oferecido pelo Centro Universitário do Espírito Santo, em Colatina, com o apoio acadêmico da Revista Mirabilia, sediada no Instituto de Estudos Medievais da Universidade Autônoma de Barcelona, na qual serão publicados artigos derivados das apresentações a critério dos palestrantes do evento e editores da revista.


Colaboraram de forma magnífica para a realização do evento os palestrantes, muitos deles de fora da cidade e até mesmo do estado do Espírito Santo, que vieram ao Seminário dispostos a compartilhar importantes lições.

Por fim, os alunos do curso de Medicina e Direito do Centro Universitário do Espírito Santo, além de diversos membros da comunidade capixaba, profissionais de diversas áreas, prestigiaram o evento e participaram ativamente dos debates e das discussões.

BLOCO I – Humanização em Saúde


A abertura do evento foi feita pelo Diretor Acadêmico do UNESC, Prof. Neacil Broseghini[1], em nome da Reitoria do UNESC. Destacou a necessidade das Humanidades Médicas para a busca da medicina integral, visando ao cuidado desde o nascimento até à morte da pessoa.

Hélio Angotti Neto[2], Coordenador do SEFAM e do Curso de Medicina do UNESC, ressaltou a importância das Humanidades Médicas no currículo médico, sem desvalorizar a aprendizagem científica e técnica que tão bem pode fazer ao paciente fragilizado.


O médico de família e comunidade, Edgar Gatti[3], falou da Medicina Centrada na Pessoa. O método clínico centrado na pessoa foi esquematizado hodiernamente por Ian McWhinney e Moira Stewart, com importante foco na atenção ao paciente e na solidariedade. Os seis passos da metodologia incluem (1) a exploração da enfermidade da perspectiva médica e da perspectiva do paciente, (2) o entendimento da pessoa e de seu contexto, (3) o projeto terapêutico compartilhado por decisões conjuntas, (4) a incorporação da prevenção e da promoção de saúde, (5) a intensificação da relação entre profissional da saúde e paciente e (6) o realismo necessário para obter bons resultados no contexto geral em que se encontra.

O médico geriatra e paliativista Heitor Spagnol dos Santos[4], professor e tutor do UNESC, explicou como abordar os aspectos sociais e espirituais do paciente em fase final de vida. Por meio de instrumentos e técnicas adequadas num contexto de compaixão, o profissional pode auxiliar o paciente a refletir sobre questões existenciais, a resgatar seus relacionamentos e a encontrar significado para seu sofrimento, evitando ou aliviando o que pode ser chamado de “Dor Total”.


 Trazendo a inspiradora história de Zilda Arns, que se dedicou a promover a saúde e beneficiar a milhões de crianças por meio de medidas educativas e eficientes como a introdução do soro caseiro, a médica dermatologista Patrícia Duarte Deps[5] e a médica pediatra Norma Suely de Oliveira[6] mostraram como a boa vontade e o amor podem interferir positivamente na sociedade e como todos nós somos convidados a deixar um legado para melhorar o que recebemos.


Para encerrar o bloco I do Seminário de Humanidades Médicas, o médico oncologista Marco Antônio Cortelazzo[7] trouxe importantes informações sobre a Ortotanásia e sua diferenciação da eutanásia e da Distanásia. Tratou da aplicação dos princípios bioéticos na prática médica e de conceitos centrais ao pensamento ético em saúde como o princípio do duplo efeito de Tomás de Aquino.


Bloco II – Profissionalismo e Ética


O segundo bloco, realizado na tarde do dia 9 de junho de 2017, abordou as histórias de vida dos médicos e de como agir de forma ética e profissional.

George da Silva Carvalho[8] falou do mercado de trabalho no Brasil e de seus desafios para o egresso do curso de medicina. Abordou também as diferentes formas de vínculo empregatício e tributação sobre profissionais, trazendo conhecimentos de grande utilidade para o planejamento da carreira e para o amadurecimento dos futuros médicos.

Carlos Magno Pretti Dalapicola[9], presidente do Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo, expôs as principais causas de processo ético profissional e orientou sobre como prevenir-se contra erros médicos. Sua apresentação ressaltou a importância do estudo e da prática ética da medicina, com forte ênfase no aspecto humanístico do profissional da saúde. Também demonstrou as obrigações do médico em relação com seu Conselho Profissional.



Para encerrar o segundo bloco, diversos membros do Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo participaram de um Julgamento Ético Profissional Simulado, no qual os participantes tiveram a oportunidade de analisar um caso baseado em fatos reais e refletirem sobre as consequências da má prática médica e das possíveis penalidades às quais está sujeito o médico. Foi ressaltada a importância do exame clínico meticuloso e completo, além do vínculo de confiança estabelecido com o médico assistente.


Sem dúvida foi um dia repleto de muitas oportunidades de crescimento profissional, no qual a participação ativa dos participantes em muito enriqueceu o evento.

Bloco III – Bioética – O Debate do Aborto



O terceiro dia trouxe um rico e controverso debate sobre um dos temas que mais polarizam opiniões na Bioética contemporânea e que toca em princípios básicos para a definição de uma civilização: o papel do abortamento na sociedade.

Cleverson Gomes do Carmo Júnior[10] fez sua apresentação inicial ressaltando a valorização da autonomia da mulher na questão do abortamento. Definiu importantes conceitos técnicos a serem utilizados na discussão e ressaltou a preocupação e o cuidado com a vida da gestante.

Leonardo Serafini Penitente[11] questionou a atuação do Supremo Tribunal Federal do Brasil na questão do abortamento e enfatizou os problemas éticos derivados de sua possível liberação, incluindo as contradições legais daí decorrentes.

Hélio Angotti Neto abordou aspectos estatísticos, históricos e culturais relacionados à questão do abortamento, contrastando alguns dados com informações previamente apresentadas e alertando sobre a futura discussão do fim da objeção de consciência por parte do profissional de saúde.

Após as réplicas entre os debatedores, foi realizado um momento de perguntas e respostas. Temas de grande relevância foram discutidos, incluindo a engenharia social, a fragilidade da mulher na sociedade, que não oferece muitas vezes o amparo necessário, e os valores de uma sociedade em derrocada.


Ao término da manhã foi encerrado o V Seminário de Humanidades Médicas do UNESC. Foi realizado um riquíssimo debate acadêmico e os palestrantes cumpriram com a obrigação implícita no melhor conceito do que deve ser a Academia: um espaço aberto à sincera busca pela verdade e pelo bem, mesmo em meio a discordâncias.

Foram dois dias de interação entre diferentes cursos universitários, entre alunos, professores e membros da comunidade de diversas cidades e perfis. Saímos todos com a certeza de que ganhamos conhecimento e aprofundamos nossas perspectivas acerca de assuntos de importância crucial para o bem de nossa sociedade.

Em 2018, o Seminário de Humanidades Médicas regressará em sua sexta edição, na expectativa de reencontrarmos amigos novos e antigos, e de continuarmos no caminho da crescimento da intelectualidade e do caráter.










[1] Neacil Broseghini é enfermeiro com mestrado em administração de empresas e é Diretor Acadêmico do Centro Universitário do Espírito Santo (UNESC).
[2] Hélio Angotti Neto é médico oftalmologista pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) com doutorado em ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). É coordenador do curso de medicina do UNESC.
[3] Edgar Gatti é médico de família e comunidade com pós-graduação em medicina do trabalho e é preceptor da residência médica em Saúde da Família e Comunidade do UNESC e do Internato Médico do UNESC.
[4] Hetor Spagnol dos Santos é médico geriatra com pós-graduação em Cuidados Paliativos. É professor e tutor do método de Aprendizagem Baseada em Problemas do UNESC.
[5] Patrícia Duarte Deps é médica dermatologista pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) com mestrado em doenças infecciosas pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e doutorado em medicina pela UNIFESP. Fez pós-doutorado em Medicina Tropical pela London High School of Hygiene & Tropical Medicine. É professora do Departamento de Medicina Social da UFES.
[6] Norma Suely de Oliveira é médica pediatra com mestrado em doenças infecciosas pela UFES e doutorado em pediatria pela UNIFESP. Atua como professora do Departamento de Pediatria da UFES e chefe da Unidade de Terapia Intensiva e da Unidade Semi-Intensiva neonatais e pediátricas do Hospital Universitário Cassiano Antônio de Morais (HUCAM).
[7] Marco Antônio Cortelazzo é médico cirurgião oncologista com mestrado e doutorado em oncologia pela FMUSP. Realizou pós-graduação em Bioética também pela FMUSP e atua na qualidade de professor da UNIFEBE.
[8] George da Silva Carvalho é médico formado pela UFES com Residência em cirurgia pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro e em Cirurgia Plástica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. É professor do UNESC.
[9] Carlos Magno Pretti Dalapícola é médico com especialização em Medicina do Trabalho e é o atual Presidente do Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo.
[10] Cleverson Gomes do Carmo Júnior é médico ginecologista e obstetra com especialização em mastologia pela UFES. Atua no Pré-Natal de Alto Risco da Prefeitura de Vitória, Espírito Santo, e é chefe da Unidade Materno Infantil do HUCAM, na UFES.
[11] Leonardo Serafini Penitente é advogado criminalista com mestrado em Direito Penal pela Universidade Federal do Pernambuco. Atua como professor da Universidade de Vila Velha.