terça-feira, 4 de abril de 2017

O Fantástico Amontoado de Células

O Fantástico Amontoado de Células

 O abortismo à prova da inteligência humana e da realidade.


Uma das grandes afirmações dos abortistas é que o zigoto ou o embrião nada mais é do que um amontoado de células. Com isso, esperam que seja demonstrado o aspecto inumano “daquilo” que está dentro do útero materno, talvez com o intuito de dessensibilizar as mães e a população em geral para a realidade biológica da nova vida que se desenvolve.
A afirmação de que o zigoto, embrião ou feto não passam de amontoados de células é, no mínimo, ignorante e estúpida. Na maioria das vezes é pura mentira maliciosa.
Falar que algo não passa de um amontoado de qualquer coisa dá a entender que não há um estado organizado especial manifestado, não há unidade. Nada poderia ser mais distante da realidade do embrião ou do zigoto.
Qualquer biólogo honesto e minimamente inteligente terá que concordar que não há absolutamente nada de desorganizado num zigoto ou num embrião, quiçá num feto!
Desde antes dos momentos iniciais da vida humana, a complexidade e a organização estão presentes. No momento da união entre gametas, quando os cromossomos paternos e maternos se unem, a nova identidade genética surge e incontáveis processos bioquímicos se iniciam em uma fantástica ordem. E durante todas as fases do desenvolvimento, o novo ser humano já demonstra incríveis capacidades.
Na sétima semana após a concepção, por exemplo, o pequeno feto (ou embrião tardio) já reage a estímulos ao redor da boca, afastando a cabeça; uma clara demonstração de resposta neurológica. Na décima primeira semana, o feto já possui estrutura para a sensibilidade cutânea do rosto, das mãos e dos pés. Um pouco mais tarde, na vigésima segunda semana, o feto reage, inclusive, à música ambiente![1]
Convido o leitor a acompanhar o desenvolvimento humano passo a passo, de forma muito resumida e simplificada, para que entenda um pouco da maravilhosa complexidade dos eventos que se sucedem após o momento da concepção.[2]
1º dia: ovócito fertilizado. O zigoto já possui o código genético que carregará por toda a vida (exceto por eventuais mutações). Incontáveis processos bioquímicos de alta complexidade direcionam as primeiras divisões celulares, e milhares de substâncias são produzidas e interagem entre si e com o ambiente do útero materno.
2º ao 5º dia: ocorrem as fases de Mórula e de Blastocisto do zigoto, nas quais a divisão celular prossegue aumentando a complexidade funcional e estrutural do zigoto.
6º dia: ligação do blastocisto com a parte interna do útero materno, denominada endométrio.
7º ao 12º dia: implantação do embrião no endométrio, possuindo duas camadas de tecido e um pequeno saco vitelino.
17º dia: embrião com três camadas de tecido e com aumento crescente de complexidade e interação tecidual com a mãe.
19º dia: fase de gastrulação com formação do processo notocordal, responsável por coordenar as progressivas diferenciações teciduais que gerarão sistemas especializados do corpo humano e órgãos específicos.
23º dia: presença do Nó de Hensen e diversas outras estruturas como fosseta primitiva, notocorda, canal neuroentérico, placa neural, pregas neurais e ilhotas sanguíneas.
25º dia: surgem os primeiros somitos, o sulco neural profundo, a elevação das pregas neurais cefálicas e os tubos endocárdicos iniciais.
28º dia: início da fusão das pregas neurais, formação dos sulcos ópticos, presença dos dois primeiros arcos faríngeos, início dos batimentos cardíacos e dobramento do embrião.
29º dia: formação das vesículas ópticas e rompimento da membrana orofaríngea. Fechamento do neuróporo cranial.
30º dia: Fechamento do neuróporo caudal, formação do terceiro e quarto arcos faríngeos, aparecimento dos brotos dos membros superiores e broto da cauda e formação da vesícula óptica.
2º mês (4 a 8 semanas após a concepção): aparecem os brotos dos membros inferiores, desenvolvimento das estruturas primordiais do olho, início do desenvolvimento dos hemisférios cerebrais, desenvolvimento das mãos e dos pés e desenvolvimento das estruturas da face incluindo nariz, pálpebras e orelhas.
3º mês (8 a 12 semanas após a concepção): Aparece a sobrancelha, começa a produção de urina, a genitália já se diferencia, começa a deglutição do líquido amniótico, começa a sugar o polegar e a fazer movimentos de apreensão, as unhas se desenvolvem, boceja, a cabeça já assume forma mais diferenciada, apresenta resposta à estimulação da pele, o interior da boca já possui papilas gustativas e o intestino começa a se mover e a expelir mecônio.
4º mês: mãe começa a sentir os movimentos do feto, ocorre produção da bile, presença de folículos primordiais nos ovários e produção do sangue.
5º mês: distensão do abdome, aumento progressivo da complexidade cerebral e descida dos testículos.
6º mês: a pele fica enrugada e vermelha, cabelos finos que cobrem o corpo começam a escurecer, começa a detecção de odor e paladar, ocorre a secreção do surfactante (substância que ajuda o pulmão a trocar oxigênio por meio da expansão dos alvéolos na presença de ar ambiente após o parto).
7º mês: pálpebras começam a se abrir, movimentos respiratórios são comuns, aparecimento de sulcos e giros cerebrais.
8º mês: pele rosada e lisa, olhos respondem à luz com reflexo pupilar, testículos entram no escroto, unhas alcançam a ponta dos dedos das mãos.
9º mês: Unhas alcançam a ponta do dedo dos pés, cérebro começa a ser revestido pela mielina, um revestimento lipídico que ajudará na transmissão de eletricidade pelos axônios neuronais.
De toda essa jornada do pequeno ser humano dentro do útero de sua mãe, já se deve concluir obrigatoriamente que nunca poderia ser chamado de amontoado de células.
O pequeno ser humano, desde a concepção, é um indivíduo no sentido em que é distinto dos demais seres, mesmo que não seja independente – e quem o é totalmente? –, mantém a unidade de uma pluralidade de componentes cuja função torna-se mais que a mera soma de seus componentes em função isolada.[3]
Por outro lado, o que então seria um amontoado de células?
Um raspado da parte interna da bochecha, por exemplo, utilizado para pesquisas genéticas, é um amontoado de células. Removido do seu ambiente, perdem suas funções dentro de um organismo complexo. Em seu conjunto não formam um organismo, são apenas parte do organismo humano. Mesmo que as células extraídas da bochecha sejam mantidas vivas numa placa de cultura, não manterão sua organização original e perderão inevitavelmente sua função sistêmica.
Pegar um zigoto, um embrião ou um feto e utilizá-lo em pesquisas científicas, sabendo de sua especificidade humana, é algo moralmente questionável, pois ali está um organismo inteiro, concreto e complexo.
O zigoto é um ser vivo tão especial e possuidor de características tão únicas e maravilhosas que se tornou alvo dos anseios de pesquisa de muitos cientistas. Os proponentes da pesquisa em embriões prometem muitos achados ao preço de se relativizar o valor da vida humana e utilizar as teoricamente incríveis capacidades do início da vida humana como ferramentas para curar ou aliviar o sofrimento do próximo.
Alguém pode até erguer uma objeção dizendo que o zigoto depende do organismo da mãe para sobreviver, e que não pode ser considerado um ser vivo. Ora, se o critério for independência de outro organismo ou do ambiente, ninguém estará capacitado a ser algo além de amontoado de células, pois o ser humano nasce extremamente dependente e, se viver o suficiente, morrerá extremamente dependente também. E durante toda a nossa vida, a dependência de outros seres humanos é uma realidade.
Outros afirmariam que o zigoto ainda não é um ser humano, pois há um estágio de indeterminação no qual ele pode dividir-se gerando dois ou mais seres humanos – gêmeos monozigóticos, trigêmeos etc. - ao invés de um. Enxergar nesse argumento uma permissão para que se instrumentalize o zigoto ou o embrião a o invés de valorizar ainda mais sua dignidade é um oximoro. Simplesmente ressalta ainda mais o valor para tentar menosprezá-lo a seguir.
O embrião não é somente um amontoado de células. É um ser vivo, é um humano (ou mais de um)! Como diria Ben Shapiro, se você encontrar um pequeno agrupamento organizado de células em Marte, você declarará em alto e bom som que há vida em Marte, e não que há amontoados de células em Marte. Por que tanta indisposição em reconhecer no embrião humano algo mais que um amontoado de células?[4] Respondo: a causa vale mais que a verdade. Com pessoas que pensam e agem nesse tipo de modalidade sofística, em que a causa vale mais que a verdade, qualquer conversa produtiva é impossível. Para eles a sua própria conveniência vale mais que uma vida humana.
Toda a questão se resume enfim a definir o seguinte ponto: O embrião está vivo ou não? É vida humana ou não? A única resposta adequada é sim. Daqui em diante o que se discute é quem podemos matar e quando podemos matar. Daqui em diante, a conversa é sobre extermínio humano.




[1] Uma breve introdução às características fetais, em linguagem bem acessível e contendo informações científicas amplamente fundamentadas em bibliografia adequada, pode ser encontrada em BELLIENI, Carlo. Se não é um ser humano... O feto: um novo membro da família. São Paulo: Edições Loyola, 2008.
[2] CARLSON, Bruce M. Embriologia Humana e Biologia do Desenvolvimento. 5ª Edição. Rio de Janeiro e São Paulo: Elsevier Editora LTDA, 2014.
[3] BOURGUET, Vincent. O Ser em Gestação: Reflexões Bioéticas sobre o embrião Humano. São Paulo: Edições Loyola, 2002, p. 26.