quarta-feira, 25 de março de 2015

Saúde em Cuba: O Outro Lado da História


Saiu no "The Lancet", um dos mais renomados periódicos de Medicina do mundo. Abaixo uma tradução pessoal:

"No passado o Lancet tem publicado Editoriais e Comentários em apoio à situação da Saúde Pública de Cuba sem levar muito em conta a situação política do país. Novamente os Editores fizeram isso no Editorial da edição de 3 de Janeiro do Lancet, apoiando o restabelecimento dos laços diplomáticos entre Cuba e os EUA em questões de saúde pública. No entanto, Cuba vive um regime totalitário que tem silenciado oponentes e prendido e matado líderes da oposição. A perseguição dos dissidentes ainda continua, como pode ser visto no caso da artista Tania Bruguera.

Na saúde pública não podemos esquecer das violações dos direitos humanos dos pacientes com HIV/AIDS no fim dos anos 80 e início dos 90, quando os testes sorológicos eram obrigatórios em Cuba e as pessoas soropositivas eram encarceradas em sanatórios descritos por Jonathan Mann como "belas prisões".

Como afirmado no Editorial do The Lancet, acesso universal ao cuidado com a saúde é uma grande conquista e uma fonte de orgulho para a população cubana. No entanto, o mesmo orgulho é erodido por um governo que pune  criatividade da população cubana e limita o exercício das liberdades civis. Em 2003, durante o que foi chamado de Primavera Negra, dois economistas foram condenados à prisão enquanto documentavam que a saúde pública cubana e a educação já estavam entre as melhores da América Latina antes da Revolução. Em 1958, a taxa de mortalidade infantil era de 33 por mil nascidos vivos, muito mais baixa do que a taxa da Argentina (61), da Costa Rica (89) e do México (80).

O governo cubano manda doutores e enfermeiras para trabalhar na Venezuela e no Brasil por minguados salários enquanto retém a maior parte dos ganhos obtidos pelo trabalho médico.

O uso da saúde pública como um dos principais tópicos do restabelecimento dos elos diplomáticos entre EUA e Cuba é uma boa ideia, como o Editorial e a carta de Anthony Robbins ao Lancet sugere. Mas ainda há outra oportunidade maior: o efeito benéfico da democracia na saúde pública está bem documentado. Se o governo cubano está tão preocupado com a saúde de sua população, deveria considerar seriamente uma transição para a democracia como parte das condições necessárias para uma nova relação com os EUA, não apenas por causa da liberdade em si, mas também por causa da saúde da população cubana."

Octávio Gómez-Dantés
Instituto Nacional de Saúde Pública, Cuernavaca, Morelos, México.